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Louis Bayard
1ª Edição: abril 2011
Saída de Emergência
ISBN: 978-989-637-321-4
392 páginas

 

 

O Último Testamento de Gus Landor

 19 de Abril de 1831

 

Dentro de duas ou três horas... ora bem, é difícil saber com certeza... certamente dentro de três horas, ou dentro de quatro no máximo... dentro de quatro horas estarei morto.

Faço menção ao assunto porque isso põe as coisas numa certa perspectiva. Por exemplo, no meu entender, ultimamente os meus dedos as- sumiram contornos interessantes. Além disso, a ripa inferior da veneziana parece-me um pouco oblíqua. E do lado de fora da janela, uma glicínia tombou, arrancada do caule, e balança como um cadafalso. Nunca havia reparado. Mas há algo mais: neste instante, o passado emerge com a mesma intensidade do presente. Todas as pessoas que fizeram parte da minha vida; não é que se reúnem à minha volta? Ponho-me a pensar o que as impedirá de baterem com as cabeças umas nas outras. Está um regedor de Hudson Park junto à lareira. Ao lado dele, encontra-se a minha mulher, com o seu avental, vazando cinzas para uma lata, e quem é que a observa se não o meu velho Retriever Terra Nova? Ao fundo do corredor, está a minha mãe (que nunca pôs um pé nesta casa, e que morreu antes de eu completar os doze anos) a engomar o meu fato domingueiro.

Há algo de curioso em relação aos meus visitantes: nenhum deles fala com os demais. Um protocolo muito rigoroso cujas regras não consigo discernir.

Porém, nem todos cumprem as regras. Durante a última hora, um homem chamado Claudius Foot tem estado a puxar-me a orelha, praticamente dilacerando-a. Prendi-o há quinze anos por ter assaltado o correio de Rochester. Uma grande injustiça: três testemunhas juravam que, a essa hora, estava a assaltar o correio de Baltimore. Ficou exasperado com o caso, abandonou a cidade sob fiança, regressou seis meses depois, encolerizado, e atirou-se para a frente de um carro de praça. Não parou de falar até estar às portas da morte. Continua a falar. [...]