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José Luís Peixoto
7ª Edição: julho 2012
Quetzal
ISBN: 978-972-564-899-5
263 páginas

 

 

1

 

(1948)

A mãe pousou o livro nas mãos do filho.

Que mistério. O rapaz não conseguia imaginar um propósito para o objecto que suportava. Pensou em cheirá-lo, mas a porta do quintal estava aberta, entrava luz, havia muita vida lá fora. O rapaz tinha seis anos, fugiu-lhe a atenção, distraiu-se, mas não se desinteressou pelo livro, apenas deixou de o interrogar enquanto objeto em si, começou a questioná-lo de maneira muito mais abstrata, enquanto intenção, enquanto sombra de um ato. A mão disse o nome do filho:

Ilídio.

O rapaz, Ilídio, estava nesse momento a tentar imaginar a vontade da mãe, o que pretendia ao entregar-lhe aquele livro, que era grande de mais para as suas mãos, mas que não era demasiado pesado. A mãe voltou a dizer o nome do filho, Ilídio. E as cores da mãe voltaram a definir-se diante dele.

Escuta.

Esta palavra simples, de sílabas simples, foi entendida pelo Ilídio de modo completo, estava a ouvi-la antes de ser dita e continuou a ouvi-la no silêncio que se lhe seguiu. Aquela voz a dizer aquela palavra fazia parte do Ilídio. Podia ouvi-la na cabeça sempre que quisesse. Em certas noites, [...]